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Crônicas em Relações Internacionais - Da Era Bretton Woods à Era das Criptomoedas: o que será do novo sistema financeiro internacional?

 

Em julho de 1944, foi celebrado um acordo econômico na cidade de Bretton Woods (Estados Unidos). A conferência que promulgou o acordo reuniu delegados de 45 nações aliadas aos Estados Unidos. O encontro estabeleceu o funcionamento de políticas monetárias e econômicas dos países no pós-guerra, além de medidas que regeriam a política econômica global após a Segunda Guerra Mundial. Outrossim, o escopo do encontro foi promover a cooperação econômica, facilitar o comércio internacional, padronizar políticas cambiais e edificar um sistema financeiro multilateral entre os países. Por sua vez, partindo da premissa que a Ordem Econômica não é constituída por transações econômicas internacionais aleatórias, mas de uma ótica lógica orientada na sua essência para o crescimento econômico.

Neste sentido, “o principal desafio a ser enfrentado pelas delegações reunidas era o de ultrapassar os entraves e resquícios deixados pelas instituições falidas no Entre-Guerras, sem que isso significasse prejuízo significativo na projeção internacional de seus estados” (BARREIROS, 2009). Assim sendo, em Bretton Woods (1944), ao contrário do pós-Primeira Guerra Mundial, não se pretendia restaurar a ordem econômica do pré-guerra, uma vez que a economia mundial deste período se via marcada por grande instabilidade e assimetria entre as nações.


A economia mundial, no meio século que vai do final do século 19 a meados do século 20, se apresentava como um sistema não muito bem articulado de economias nacionais e de dependências coloniais ou semicoloniais, interligadas por intercâmbios voluntários ou compulsórios de bens, serviços, capitais, mão de obra e tecnologia; elas o faziam num contexto de crescentes assimetrias estruturais entre as nações do capitalismo avançado e entre essas e seus territórios coloniais, nações semicoloniais ou países dependentes. Os elementos estruturais de divergência são provavelmente mais relevantes do que aqueles de continuidade, entre o começo e o final do período, mas, no plano geopolítico, o mundo não deve ter se alterado tão radicalmente nesse período de pouco mais de meio século (ALMEIDA, 2015).

 

            O Sistema Bretton Woods estabeleceu aos EUA o controle não só das relações financeiras entre os países, mas também sobre toda a economia mundial, tornando o dólar moeda internacional. Assim, os Estados Unidos assumiram a responsabilidade de prover a liquidez internacional, baixar a taxa de inflação interna, manter as taxas de câmbio estáveis e conceder empréstimos. As medidas aprovadas em Bretton Woods funcionaram por durante 20 anos. Porém, a partir da segunda metade da década de 60, vários problemas começaram a emergir, principalmente pela degradação das finanças norte-americanas, o que levou à desvalorização do dólar, afetando outros países que o utilizavam.

        Com efeito, a emissão de dólares produzida pelos EUA para financiar seus recorrentes déficits orçamentários e estimular sua economia doméstica começou a causar problemas para o restante do mundo – observando que em conformidade com o acordo, os Estados eram obrigados a emitir moeda própria para manter o câmbio fixo com o dólar americano. Desse modo, com a deterioração do dólar, cada vez mais países e investidores começaram a demandar a troca da moeda pelo ouro. Por conseguinte, isto acarretou no rompimento do sistema, já que os Estados Unidos não tinham mais capacidade para cobrir a paridade do dólar com o metal.

        Em suma, Bretton Woods teve uma grande importância para a ordem econômica mundial do século XX, pois foi o primeiro sistema a instaurar uma ordem monetária totalmente negociada, embora seu formato tenha estado longe da perfeição, num processo permeado por ensaios de erros e acertos, em torno dos princípios da reciprocidade, do tratamento nacional e da cláusula da nação-mais-favorecida. Por outro lado, reconstruiu o sistema financeiro internacional e instituiu o capitalismo como principal regime econômico mundial.

        Assim sendo, após o término da Era Bretton Woods, se deu a consolidação do Capitalismo Informacional. Esta fase, que se estende até os dias atuais, foi marcada pelo crescimento da especulação financeira em torno do mercado de ações no sistema especulativo de créditos e na aceleração dos fluxos de capitais, aliada ao uso de novas tecnologias.

 

"Atualmente, com a colaboração do chamado Capitalismo Informacional, termo criado pelo sociólogo espanhol Manuell Castells, o sistema financeiro global estende-se pelo planeta com a integração de todas as bolsas de valores e com o dólar como a principal moeda internacional de trocas comerciais" (PENA, 2013).

        No século XXI, diante do avanço da tecnologia e dos mais variados meios de comunicação, o Sistema Financeiro Internaiconal se vê sob a influência do mundo digital. Em 2008, o sistema financeiro quebrou e talvez propositalmente, um anônimo chamado Satoshi Nakamoto, criou uma moeda criptografada digital denominada Bitcoin. Esta moeda permite a transferência de dinheiro e ativos entre pessoas físicas e jurídicas sem a interferência de um terceiro intermediário (por exemplo, bancos) (GREENBERG, 2011).

        A Moeda digital (dinheiro digital, dinheiro eletrônico ou moeda eletrônica) cada vez mais vem tomando espaço no mercado financeiro. Trata-se de um ativo que é armazenado ou trocado em sistemas digitais, preferencialmente através da Internet. Ele possui propriedades semelhantes às moedas tradicionais, mas geralmente não têm uma forma física, ao contrário das moedas com notas impressas ou moedas físicas. Essa falta de forma física permite transações quase instantâneas pela Internet e remove o custo associado à distribuição de notas e moedas.

        A grande praticidade desses tipos de moedas é que elas podem ser utilizadas ​​para comprar bens físicos e serviços além de normalmente não serem emitidas por um órgão governamental tampouco serem consideradas moedas correntes, e permitirem a transferência de propriedade através das fronteiras governamentais.  

        Conquanto, atualmente ainda grande parte das transações comerciais estejam sob a dependência de grandes intermediários como bancos, governos e bolsas de valores, para estabelecer segurança à economia mundial. No futuro, será mais comum a celebração de contratos inteligentes (smart contracts) auto executáveis com códigos automatizados para facilitar e regular automaticamente a troca de dinheiro, conteúdo e mídia, propriedade intelectual ou física, ações, serviços, qualquer bem que possa ser convertido em capital, através da tecnologia Blockchain, plataforma digital a qual realiza o registro da aquisição da moeda virtual (ex: Bitcoin, Ethereum), o que torna o registro mais confiável e imutável.


Referências bibliográficas:

ALMEIDA, Paulo. Transformações da ordem econômica mundial, do final do século 19 à Segunda Guerra Mundial. In: Rev. bras. polít. int. vol.58 no.1 Brasília Jan./June 2015.

BARREIROS, Daniel. Atuação da Delegação Brasileira na Formulação do Acordo Internacional de Bretton Woods (1942-1944), 2009.

GREENERG, Satoshi. Crypto currency, 2011. Disponível em: https://www.forbes.com/forbes/2011/0509/technology-psilocybin-bitcoins-gavin-andresen-crypto-currency.html?sh=7947cc05353e

PENA, Rodolfo F. Alves. "Capitalismo Financeiro". In: Brasil Escola, 2013. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/capitalismo-financeiro.htm. Acesso em 05 de outubro de 2020.

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